quarta-feira, 15 de julho de 2009

Anos Dourados

   Varig, Varig,Varig


   Dia 11 de Fevereiro de 1999 foi meu último dia de trabalho na Varig. Sem falsa modéstia foram 10 anos e 5 meses de serviços bem prestados, feito com muito carinho, dedicação e empenho. Tinha orgulho em fazer parte da Família Varig. Achava lindo meu crachá, com o logotipo da empresa - a estrela azul -. Ali fiz grandes e verdadeiras amizades, que ficaram. Cada dia era um aprendizado diferente.
Entrei como "caloura" e ao longo dos anos me "formei". Deixei de ver a banda passar para cair no samba. Aprendi a conviver com pessoas de diferentes formações,  pontos de vista , foram anos de grande aprendizado, com certeza gratificante!


No local de trabalho avistava a Marina da Glória ao longe e nos intervalos, atravessava a rua e sentava nas pedras que haviam em frente ao prédio, onde observava a água a bater levemente enquanto os pensamentos voavam... muitas vezes buscando compreender as diversas situações vividas, outras apenas contemplava a beleza e o presente recebido pelo nosso Pai.
 Todos os dias, sem exceção agradecia a Deus poder usufruir de tal vista previlegiada.


Quem lê esse texto hoje deve pensar - nossa já faz um bom tempo que a Varig nem existe mais - porque justamente agora escrever sobre a Varig ?? Respondo. Desde a data do meu desligamento da empresa, somente hoje retornei. Fui dar entrada no pedido do meu SB40, um documento que terá grande importância ao me aposentar.


 Passei pela portaria, subi as escadas, me dirigindo ao 3 andar , onde havia uma sala com funcionários da cia. aérea Flex. Como trabalhei neste mesmo prédio no segundo andar, bateu uma enorme saudade e resolvi dar uma olhada. O que vi me tocou profundamente, andares fantasmagóricos, silenciosos, sem uma alma viva, apenas poeira e computadores jogados nas salas, onde antes todos ganhavam o pão. Custei e até hoje custo a acreditar que aquela cena era real. Isso não podia ter acontecido com a Varig. Porque? Porque não havia necessidade, era uma empresa forte, atuando num mercado em expansão, com alta demanda, depois porque ela era empregadora de centenas, milhares de chefes de família que dependia deste trabalho para o sustento familiar e por "último" porque as pessoas que ali trabalhavam empenhavam seu coração, se dedicavam, se sentiam parte  de uma grande família, a família Varig ( inclusive eu). Não era apenas uma empresa, um contrato trabalhista entre funcionário/empresa, nós éramos como um time. Quem teve o privilêgio de trabalhar na Varig sabe do que estou falando.
 Porém fica uma certeza, que esse sentimento não era compartilhado por 100% de seus colaboradores.
Tenho certeza que poderíamos ter vencido a guerra, inclusive poderíamos nem mesmo ter entrado nela, faltou o espírito de Rubem Berta na nossa Varig. Faltou a "presença" do dono do negócio. Enveredamos por caminhos sem saída e persistimos nele, até ao apagar das luzes. E pra quem ficou até o final ( que não foi meu caso), vivenciou dramaticamente a situação de "o último a sair apaga as luzes". Tudo desnecessário. Tem empresas que vivem 60 anos e não constrói um nome, uma marca forte como a da Varig, que "mesmo sem vida ainda vive". Faltou humildade para reconhecer que devería ter mudado radicalmente o rumo a seguir , faltou inclusive perceber e acreditar que o fim poderia chegar, mas principalmente faltou amor para resgatar aquela que estava  emergindo num grande mar, quase a deriva. Deixaram-na partir.   
E ficamos nós, um país, órfãos.  
    
 

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